16.7.16

Meio do livro

















Foi então que me perguntaram para que serve a poesia.
Para atrair traças. Não soube dizer.
Quiseram fazer-me o horóscopo:
Gostava tanto de mexer na vida.

E se não fosse uma poeta, perguntaram,
seria o quê? Abri um livro ao calhas -
atleta, estafeta, hospedeira, jogadora compulsiva
de tudo o que me livre da contabilidade.

E um bom poema? Uma banana a apodrecer numa fruteira.
E o que a comove? Uma banana a apodrecer numa fruteira.
(Não se trata de metafísica de espécie nenhuma,
as nódoas negras sempre me causaram fraqueza.)

Quiseram até saber da minha vontade
o que ficaria escrito no meu epitáfio.
E do que mandaria a um político.

Mas agora que penso, o que quero é largar o moribundo
é o que o predador apaixonado pela caça deve querer.

Venham brincar comigo,
para já para já
fica escrito.


(Numa sessão de poesia fiquei conheci a Raquel Nobre Guerra. Este é do Senhor Roubado).


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